Igreja Lusitana
Evangelho de Lucas, 23; 34
Esta extraordinária petição de Jesus a Deus Pai, apenas registada em S. Lucas, revela uma das grandes qualidades do Senhor, que tanto pode ter sido ditada pela sua natureza humana como pela divina. Porque, para nós, pobres humanos, é difícil não ver Jesus, em primeiro lugar, como um homem perfeito, como Adão, antes de pecar. É como Homem que o sentimos próximo. A sua constante comunicação com o Pai cria a ilusão de que ele é um de nós, mas imenso, grandioso em amor, em compaixão, em generosidade, em perdão.
Sem dúvida que foi para isso que Deus Pai incarnou como Deus Filho, tornando-se humano, tornando-se carne e habitando entre nós para melhor poder comunicar connosco e para, como um ser humano, assumir a castigo pelos nossos pecados, morrendo numa cruz. Por isso S. João diz no seu Evangelho (3, 16): Deus amou de tal maneira a humanidade que lhe entregou o seu Filho único, para que todo aquele que crer no Filho de Deus não se perca mas tenha a vida eterna.
Lemos em S. Mateus 9,2 que um dia lhe levaram um paralítico numa enxerga e que, quando Jesus, perante a fé dos homens que o levavam, disse ao paralítico: Os teus pecados estão perdoados. E a seguir corou-o. É possível que eles o tivessem levado devido à fé persistente do paralítico, que os terá contagiado. O texto não explica. Mas aprendemos que a nossa fé, acompanhada de um esforço, pode beneficiar os que precisam de nós. Sem fé ninguém pode agradar a Deus (Heb 11,6).
No caso dos que crucificaram Jesus, só alguém com uma capacidade divina de compreensão e perdão pode rogar a Deus que não condene os transgressores, inimigos da obra de Deus, embora por ignorância. Jesus pediu ao Pai que lhes perdoasse, mas acrescentou a razão porque pedia isso: porque não sabem o que fazem.
Quantos crimes se têm cometido e continuam a cometer em nome de Deus ao longo da História, por mera ignorância, que é sempre atrevida, gerando orgulhos e preconceitos. As muitas perseguições aos Cristãos ao longo dos tempos, e também a perseguição destes aos Judeus e aos Muçulmanos na maioria dos países cristianizados, com destaque para o massacre nazi, a perseguição dos Muçulmanos aos Judeus e aos Cristãos da Palestina e em outras partes do mundo, a perseguição dos Católicos Romanos aos Protestantes e destes aos Católicos Romanos – todo isso feito, por ignorância e maldade, em nome de Deus. Os muitos crimes e assassínios cometidos nos nossos dias pelos Islamitas são sempre feitos em nome de Deus (biçmillah). E quando os Judeus matam Muçulmanos por retaliação também o fazem em nome de Deus (bexem yavé).
Quando descobrimos a riqueza do amor de Deus, compreendemos então como é incomensurável, apenas condicionado pela fé, que é, aliás, um dom de Deus, dependente apenas do nosso livre arbítrio. Como lemos em Hebreus 11,1 , A fé é a certeza de já se possuírem as coisas que se esperam e a garantia das coisas que se não vêem. É o antegozo das delícias celestes e da eterna presença de Deus. Mas sem fé ninguém poderá agradar a Deus, nem sequer comunicar com ele através da oração, tal como ele comunica connosco através da sua Palavra escrita ou em revelações particulares.
A História religiosa tem casos de homens com uma fé capaz de entender a razão por que são perseguidos e sacrificados. Lembremo-nos da João Huss (†1415), condenado pela Igreja Romana a ser queimado vivo por divergência de ideias sobre o modo de adorar o mesmo Deus. Quando já estava preso ao poste em que ia ser queimado vivo, uma velhinha pôs uma acha na fogueira e Huss, perante aquele gesto de cega obediência, apenas exclamou: Santa simplicidade! Qual de nós seria capaz de pensar assim?
Se uma grande parte do mundo continua na ignorância acerca das diferentes formas de manifestar a fé em Deus, recorrendo à violência e a actos fundamentalistas que só lançam a ignomínia sobre pessoas e igrejas que se dizem cristãs, não dando aos outros o direito de adorar o mesmo Deus de modo diferente do seu, a culpa é, sem dúvida, das grandes igrejas, que não seguem a bondade e a compreensão de Jesus Cristo, que nos ensinou a orar pelos nossos inimigos e não a usar de violência para com eles.
Mas a Igreja somos todos nós que cremos em Deus e o queremos adorar. E, se desejamos que a harmonia e a paz dominem entre os cristãos de qualquer facção, comecemos por cultivar um espírito de compreensão, tolerância e perdão.
Estudo Bíblico publicado no site da Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica - http://www.igreja-lusitana.org/
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