terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Importância e a Atualidade dos Pais da Igreja

Alexis Peña-Alfaro

Qual é o lugar dos Pais da Igreja para os cristãos de hoje? Muitos fiéis não conhecem a história da Igreja nem muito menos o papel que os Pais da Igreja ocupam na formação da fé cristã. Muitos não suspeitam que a fé que eles professam hoje se deve em grande parte à luta que esses Pais desempenharam na formulação dos dogmas e das doutrinas da Igreja. As Santas Escrituras não explicitam algumas questões fundamentais da fé cristã. Cristo tem duas naturezas? É homem e Deus ao mesmo tempo? Se tem duas naturezas, uma prevalece sobre a outra? Estão misturadas? Tem duas vontades, uma divina e outra humana? Deus é trino? Deus é uno?

Essas e outras questões da fé cristã, que não foram explicadas pela Escritura Sagrada, os Pais da Igreja, por meio dos Concílios Ecumênicos, definiram, como, por exemplo, através do Símbolo da Fé – o Credo. Ao mesmo tempo, os Pais da Igreja se dedicaram a combater as heresias, os erros que destruíam a fé verdadeira e induziam os fiéis a distorcer a fé transmitida pelos apóstolos e que cada geração de cristãos deve passar às outras, isto é, a característica central da Igreja apostólica.

São os Pais da Igreja todos aqueles que durante os primeiros séculos da Igreja Indivisa consolidaram a doutrina e os dogmas da Igreja no combate ao erro e às heresias. Como se vê, foram de fundamental importância para a Igreja. Daí surgir a pergunta: eles têm lugar no século XXI? Infelizmente a resposta é não! Por vários motivos!

Em primeiro lugar, os Pais da Igreja são considerados na interpretação ocidental racionalista, como personagens históricos ultrapassados, estando superados pelo simples fato de pertencerem a outra geração histórica. O passado da Igreja é passado. Isso é fruto de uma mentalidade histórica e cultural que podemos definir como modernista. A mentalidade modernista considera todo o passado como inadequado ao momento presente. Apenas se interessa pelo momento atual. Assim sente e pensa o homem contemporâneo. Está subjacente nele uma idéia de progresso em que o presente tem mais valor que o passado. Isso é um tremendo preconceito e um reducionismo, fruto de uma mentalidade positivista que permeia uma visão de mundo científica que foi aos poucos introduzida na teologia ocidental.

Os Pais da Igreja perderam valor a partir da modernidade, especialmente no ocidente, onde a cultura e o culto ao humanismo contaminaram a eclesiologia e a teologia, tanto católica quanto protestante, dever-se exclusivamente a essa escolha metodológica de valorizar os métodos e contribuições das ciências sociais e humanas: o materialismo histórico, a crítica textual, o relativismo cultural, o psicologismo e tantos outros instrumentos que poderiam ser valiosos auxiliares, suplantam a Tradição da Igreja e sua experiência espiritual. (...)

Segundo Evdokimov, "um pai espiritual nunca é um diretor de consciência", nunca engendra "seu filho espiritual", mas um filho de Deus, adulto e livre. O discípulo recebe o carisma da atenção espiritual, o pai recebe o carisma de ser o órgão do Espírito Santo. Assim, a conclusão necessária à pergunta "quem são os nossos país?" será: quem nos transmitiu a fé em Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, a doutrina da Igreja, seus dogmas e a Tradição transmitida pelos sucessores dos discípulos dos Apóstolos até a consumação dos séculos. "Minha mãe e meu irmão são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a cumprem" (Lc 8:21). (...)

A tradição protestante, no século XVI, rompeu com os ensinamentos dos Pais, mesmo quando os reformadores empenharam-se em mantê-los como parâmetros de interpretação das Escrituras, terreno difícil como sabemos, pois a livre interpretação dos textos sagrados colocou o pressuposto de que cada fiel é livre para interpretá-lo. O resultado não poderia ser mais desastroso: um mesmo texto sagrado deu origem a uma infinidade de denominações que continua crescendo cada dia. Calcula-se que existam mais de 600.000 denominações cristãs originárias do protestantismo. (...)

Como são atuais os ensinamentos e, sobretudo, o exemplo de S. João Crisóstomo! Para uma sociedade de consumo e do espetáculo, ele oferece o ascetismo e a moderação; para o amor e o apego ao dinheiro, ele oferece o desprendimento e amor pelos pobres, sem demagogia, por amor a Cristo e não aos holofotes; para a bajulação aos poderosos, ele nos mostra sua liberdade de consciência e destemor; para uma sociedade hedonista, ele lembra que a vida é efêmera e passageira, que nosso destino é a eternidade e o Reino de Deus.

As teologias contemporâneas ignoram os Pais da Igreja, perderam a fé e a identidade. Se não sabemos quem somos, nem de onde viemos, também não sabemos para onde vamos. A perda da identidade é o risco que se corre na Pós-modernidade: fragmentação, ruptura e dispersão. Não esquecer as palavras do Mestre: "Estarei convosco até a consumação dos séculos" (Mt 28:20).

Este texto pode ser lido integralmente no site da Diocese Anglicana do Recife - www.dar.org.br.

Um comentário:

  1. Alexis Pena-Alfaro é Vigário Geral da Igreja Ortodoxa Sérvia no Brasil, além de psicológo e professor.

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